Walk the line
"E desejas que passe o aperto no peito. Desejas de tal forma que tudo dê certo que sorris com a confiança de quem tem o mundo na mão. Falar de gostar é pouco. Aliás falar de gostar não é quase nada no que a ti respeita. É que gostar é pequeno para falar de ti, que és tão grande. É que gostar não serve para falar de mãos dadas, da tua respiração no meu pescoço e do facto de o teu abraço ser o lugar mais seguro do mundo. Gostar não serve para falar de cumplicidade, nem dos segredos que se dividem no escuro do quarto. Gostar não chega perto de sentir o coração a acelerar quando a porta do autocarro se abre e a cabeça gira imediatamente para te encontrar. Gostar não conhece a tranquilidade que me dás nem sabe a força que tem o teu sorriso. Gostar não imagina sequer como é abraçar-te durante a noite e pedir, baixinho, que os pesadelos se vão embora. Gostar não conhece a sensação de chorar ao telefone de tanto que desejo que a tua dor seja mais pequena. Gostar não entende o que é desenhar com os dedos na tua barriga projetos de dias felizes. Gostar não se dá com puxões de orelhas e com risos. Gostar não sente de perto o quão feliz me faz ouvir "esta é a minha namorada." Gostar nunca foi surpreendido à porta de casa com um ramo de flores. Gostar não sabe o que é fechar os olhos e sorrir. Gostar, no fundo, não sabe de nada. É que gostar parece que está só ali na palavra. Gostar é centrado. Gostar é contido. Gostar é pouco e é pequeno e sabes uma coisa? O que eu sinto é tão grande que parece que não me cabe no peito."
Ana Marta Silva